31.8.07

Somos tão colunáveis!

Desde o mês de Julho que o Ancão, a Quinta do Lago e praias adjacentes entraram em incandescência e as noites do Sul se tornaram verdadeiramente tórridas… A silly season atingiu o apogeu no mês de Agosto, mas as temperaturas ainda se mantêm no ponto de fusão, e enquanto Outono tarda em chegar vamos ficando pelo reino dos Algarves.

Apesar da distância, as novidades correm depressa e têm chegado até aqui ao Algarve os rumores das mexeriquices, boatos e maledicências que como todos sabemos são o élan que alimenta a vidinha de São Teotónio, mas como tudo tem o seu tempo reservamos esses assuntos para futuras postagens, já que hoje vamos falar de notícias – daquelas que são veiculadas pelos órgãos de comunicação social… Todos sabemos que o Litoral Alentejano está um must… enfim… está litoralíssimo! Mas não é de todo… um lugar de referência ou de passagem obrigatória no meio social para pessoas de nível elevadíssimo – “la crème de la crème”, contudo é seguramente um cenário fantasticamente alternativo para o descanso na estação quente!

Estamos numa época em que as notícias bombásticas rareiam e os "mass media" procuram avidamente hot news, daquelas que elevam as audiências e aumentam as vendas e na falta delas procuram soft & silly news daquelas que animam a época estival, repletas de "beautiful people" na sua "bella vita" exibindo a sua "joie de vivre".

Assim… enquanto descansamos em terras de mouros, temos tido os nossos ímpetos de saudade ao ler as notícias que foram publicadas em diversas revistas nacionais ao longo das últimas semanas. Claro que as tardes na praia e as festas da noite têm sido tremendas, mas… as manhãs são terríveis e é nesse período do dia que o cansaço e a vulnerabilidade assolam e tem acontecido irmos ao Centro Comercial da Quinta do Lago ou à esplanada do Gigi debicar um brunch e começamos a desfolhar uma revista e… lá está… o nosso querido Alentejo! Ainda bem que os nossos óculos são enormes e escuríssimos, caso contrário revelariam a nostalgia espelhada nos olhos.
Vá lá que os temas são muito ligeiros e singelos para não dizer enfadonhos, caso contrário, se fossem estimulantes, fantásticos e arrasadores teríamos de tomar umas infusões ou chás calmantes para que não fizéssemos as malas e rumássemos para a costa alentejana.


Quanto às notícias, não deixamos de concordar com o “colega” O Revisor do "Semanário Expresso" que manifesta a saturação pela insistência destas publicações em editarem sistematicamente o mesmo tipo de temas. Claro que estas seriam apenas mais umas reportagens sobre o Alentejo, não fossem determinados detalhes que encontrámos ao esmiuçá-las.

A revista "Visão" de 2 de Agosto exibe na sua capa uma foto do jornalista Luís Ribeiro a caminhar pela costa alentejana, remetendo-nos para uma “reportagem especial” com o curioso título “à descoberta (a pé) da costa alentejana – 150 kms, em 11 dias, por praias e falésias. O nosso litoral selvagem como nunca o viu.” Na página 8 da revista a redacção realça as dificuldades, a dureza da caminhada e a fadiga sentidas pelo jornalista, salientando que o objectivo principal desta aventura era “chegar mais além, ir a sítios inexplorados”, enfim… descobrir um litoral virgem e impoluto.

Ao chegarmos à página 78 iniciamos a grande aventura pelo nosso litoral e no final dessa grande caminhada não podemos esconder o orgulho quando o jornalista entra na freguesia de São Teotónio e nos mima com vários elogios chegando a afirmar que aqui se sentiu “agraciado com as mais fabulosas paisagens de todo o litoral.”

No início da reportagem Luís Ribeiro deixa transparecer um certo entusiasmo que se esvanece com a crueldade das desilusões sentidas ao longo do percurso, e certamente partilhamos com ele todo esse rol de sentimentos, pois a ideia de uma região comummente conhecida pela sua pobreza e pelo seu atraso tem sido associada à eterna fantasia de um Alentejo inexplorado, com recursos naturais por descobrir e com paisagens idílicas, paraísos intocados e oásis recônditos. É uma ideia errada! O Alentejo já está a ser conspurcado pela fúria do betão e a reportagem da revista "Visão" demonstra isso mesmo! A procura de uma costa intacta, perdida, esquecida e quase secreta revelou a soberba dos homens, a implacabilidade da economia e a ineficácia das políticas ambientalistas.

A revista “Sábado” apresenta na capa uma convidativa fotografia do Monte da Xica que nos remete para uma reportagem intitulada de “Os últimos refúgios do Alentejo” e em letras mais discretas o apetite do leitor é aguçado por um pequeno texto onde é prometido serem revelados lugares exclusivos e tranquilos – “Dez pequenos hotéis, no interior e no litoral, onde pode passar uns dias tranquilos neste verão. Descubra ainda quais são os melhores passeios, praias e restaurantes.” Desfolhando a revista deparamos na página 3 com o Sumário onde é reforçada a ideia de que serão revelados alguns segredos bastantes exclusivos com o seguinte texto – “Uns acabam de abrir, outros são velhos segredos bem guardados: do interior ao litoral, dez pequenos hotéis no Alentejo onde é possível escapar à confusão.”

Rumamos à anunciada página 40 e lemos em letras garrafais - “Férias longe da confusão” no canto superior surge em maiúsculas de corpo mais
modesto – “ Destinos. Os últimos refúgios do Alentejo” e por baixo, sob o título (perdoem-nos a incessável repetição em jeito de mega pleonasmo) é relembrado ao leitor que irá conhecer um Alentejo onde será mimado com “Jantares servidos em quartos com velas, pequenos-almoços deixados à porta para tomar quando quiser, fondue de chocolate com champanhe na cama” e novamente “Há tudo isto em hotéis perdidos no Alentejo. A Sábado mostra-lhe alguns dos melhores.”


Pois é… tudo pareceria normal, não fosse a inverosimilhança das afirmações… "Os últimos refúgios do Alentejo"? Onde? A Zambujeira do Mar, Vila Nova de Milfontes, Porto Covo, Santiago do Cacém… É certo que os lugares onde se situam as unidades de hospedagem e os seus arredores são tranquilos, mas quem conhece este Alentejo sabe que as praias são imensamente confusas nesta época. O surpreendente é que o Alentejo é na sua essência um imenso refúgio para quem busca isolamento, onde se podem excluir as praias e as áreas urbanizadas (vilas e cidades) e quem afirma que aqueles lugares/localidades são os últimos refúgios do Alentejo é porque não conhece o Alentejo ou porque não sabe o que é um refúgio!

Quanto à questão dos hotéis, esta parece-nos mais grave! Saberá esta gente o que são hotéis? Ou será que a falta de hotéis na região levou os repórteres a apelidarem de hotel qualquer estabelecimento que alugue quartos? O mais curioso é que sendo esta reportagem destinada a aguçar o apetite por sítios recônditos e pouco visitados, seria natural que o público gostasse de saber que nesta região existem pouquíssimos hotéis e a excelência na hospedagem é feita em unidades de Turismo em Espaço Rural e seus sucedâneos.


O paradoxo surge quando comparamos as reportagens das duas revistas, o jornalista da revista "Visão" lamenta a falta de hóteis no litoral Alentejano e a jornalista da revista "Sábado" descobriu dez hóteis e cinco deles aqui na nossa costa!

Ora… a legislação portuguesa é explícita e classifica os estabelecimentos hoteleiros em hotéis; hotéis-apartamentos; pensões; estalagens; móteis e pousadas remetendo o Turismo em Espaço Rural para outro regulamento. O Regime Jurídico do Funcionamento e Instalação dos Empreendimentos Turísticos refere que “os hotéis são classificados entre 5 a 1 estrela constituindo-se em pelo menos, 10 unidades de alojamento…”

Duvidamos assim que alguns dos estabelecimentos descritos na revista "Sábado" possam receber a designação de hotel, pelo simples facto dos requisitos para a instalação de unidades hoteleiras requererem níveis de qualificação que estes estabelecimentos não possuem – é visível e é notório! Por outro lado a legislação refere que um Hotel deve ter no mínimo 10 quartos (no caso do Monte da Xica por exemplo é referido que apenas possui três quartos).


A legislação menciona também que “em nome do princípio da veracidade, o hotel deve usar essa indicação no nome que adopte.”, impondo deste modo, que o nome do empreendimento contenha a palavra hotel e pela leitura da reportagem não encontrámos qualquer referência do género - Hotel Monte da Xica, Hotel Monte Estacada ou Hotel do Chora Cascas, concluímos assim que nestes estabelecimentos não existe qualquer terminologia na sua designação que as associe a este tipo de classificação - consequentemente não são hóteis!

As sugestões propostas pela revista são acompanhadas de uma explicação relativamente detalhada dos caminhos que levam os leitores até estes “hotéis” maravilhosos e esse esclarecimento revela-nos que a revista "Sábado" não é escrita para portugueses do sul, pois os algarvios e alentejanos não têm direito a qualquer indicação (comprem Gps!).


A reportagem realça também a magia desses hotéis mencionando até que o Monte da Xica já foi considerado um dos locais mais românticos de Portugal! Pois bem, para os leitores do blog que quiserem fazer uma escapadela romântica, aqui sugerimos alguns lugares realmente românticos, mágicos e imbuídos de espírito intimista (porque nos parece que essa gente não sabe bem o que é o romantismo). No concelho de Odemira propomos a Pousada de Santa Clara-a-Velha, e nos arredores o Spa Resort das Caldas de Monchique. Em Sintra aconselhamos o Hotel Tivoli Palácio de Seteais e em Coimbra o Hotel da Quinta das Lágrimas (profundamente ligado ao amor de Pedro e Inês). Mais a Norte sugerimos as termas da Cúria (por exemplo o Grande Hotel da Cúria), ou o Luso e Buçaco (por exemplo o Palace Hotel do Buçaco). E para que a escapadela seja memorável façam-se acompanhar da melhor companhia que encontrarem!

3 comentários:

Anónimo disse...

Cara Loura Platinada


Todos dizem o Jonas é um´má língua, mas tu Lourinha bem que lhe pegas, implicas com tudo, assim mesmo é que o Jonas gosta de pontos nos is...
Jonas

Anónimo disse...

Olá Lourinha!

Quando é que deixas o Algarve?

Vê lá se vens antes do Verão acabar!

Luis

Anónimo disse...

O Juvenal está escandalizado com a nossa Câmara, por favor sejam mais rápidos na aprovação dos projectos, para que o nosso concelho possa desenvolver-se mais!...