31.8.07

São Teotónio em Festa!

A festa em honra de Nossa Senhora do Rosário decorrerá ao longo deste fim-de-semana e a noite de 31 de Agosto será marcada pela realização de uma Procissão de Velas e de um Baile com o músico Pedro Raposo.

O dia 1 de Setembro contará com o Lançamento de pára-quedistas, e a actuação dos grupos Canta São Teotónio; Ceifeiras de Malavado e Grupo Coral Alentejano de Tunes. O baile será animado pela dupla Nelson & Arménio.
No dia 2 de Setembro as cerimónias religiosas serão concluidas durante a manhã com a realização da procissão em honra da Nossa Senhora do Rosário. Ao longo da tarde os festejos contarão com a presença da Banda Filarmónica de Odemira; do Rancho Folclórico e Etnográfico de Odiáxere; da Marcha do Cavaleiro; do Crupo Coral do Concelho de Castro Verde e da Banda BD. O encerramento da festa será marcado pela realização de um baile animado pela AS Band.

Somos tão colunáveis!

Desde o mês de Julho que o Ancão, a Quinta do Lago e praias adjacentes entraram em incandescência e as noites do Sul se tornaram verdadeiramente tórridas… A silly season atingiu o apogeu no mês de Agosto, mas as temperaturas ainda se mantêm no ponto de fusão, e enquanto Outono tarda em chegar vamos ficando pelo reino dos Algarves.

Apesar da distância, as novidades correm depressa e têm chegado até aqui ao Algarve os rumores das mexeriquices, boatos e maledicências que como todos sabemos são o élan que alimenta a vidinha de São Teotónio, mas como tudo tem o seu tempo reservamos esses assuntos para futuras postagens, já que hoje vamos falar de notícias – daquelas que são veiculadas pelos órgãos de comunicação social… Todos sabemos que o Litoral Alentejano está um must… enfim… está litoralíssimo! Mas não é de todo… um lugar de referência ou de passagem obrigatória no meio social para pessoas de nível elevadíssimo – “la crème de la crème”, contudo é seguramente um cenário fantasticamente alternativo para o descanso na estação quente!

Estamos numa época em que as notícias bombásticas rareiam e os "mass media" procuram avidamente hot news, daquelas que elevam as audiências e aumentam as vendas e na falta delas procuram soft & silly news daquelas que animam a época estival, repletas de "beautiful people" na sua "bella vita" exibindo a sua "joie de vivre".

Assim… enquanto descansamos em terras de mouros, temos tido os nossos ímpetos de saudade ao ler as notícias que foram publicadas em diversas revistas nacionais ao longo das últimas semanas. Claro que as tardes na praia e as festas da noite têm sido tremendas, mas… as manhãs são terríveis e é nesse período do dia que o cansaço e a vulnerabilidade assolam e tem acontecido irmos ao Centro Comercial da Quinta do Lago ou à esplanada do Gigi debicar um brunch e começamos a desfolhar uma revista e… lá está… o nosso querido Alentejo! Ainda bem que os nossos óculos são enormes e escuríssimos, caso contrário revelariam a nostalgia espelhada nos olhos.
Vá lá que os temas são muito ligeiros e singelos para não dizer enfadonhos, caso contrário, se fossem estimulantes, fantásticos e arrasadores teríamos de tomar umas infusões ou chás calmantes para que não fizéssemos as malas e rumássemos para a costa alentejana.


Quanto às notícias, não deixamos de concordar com o “colega” O Revisor do "Semanário Expresso" que manifesta a saturação pela insistência destas publicações em editarem sistematicamente o mesmo tipo de temas. Claro que estas seriam apenas mais umas reportagens sobre o Alentejo, não fossem determinados detalhes que encontrámos ao esmiuçá-las.

A revista "Visão" de 2 de Agosto exibe na sua capa uma foto do jornalista Luís Ribeiro a caminhar pela costa alentejana, remetendo-nos para uma “reportagem especial” com o curioso título “à descoberta (a pé) da costa alentejana – 150 kms, em 11 dias, por praias e falésias. O nosso litoral selvagem como nunca o viu.” Na página 8 da revista a redacção realça as dificuldades, a dureza da caminhada e a fadiga sentidas pelo jornalista, salientando que o objectivo principal desta aventura era “chegar mais além, ir a sítios inexplorados”, enfim… descobrir um litoral virgem e impoluto.

Ao chegarmos à página 78 iniciamos a grande aventura pelo nosso litoral e no final dessa grande caminhada não podemos esconder o orgulho quando o jornalista entra na freguesia de São Teotónio e nos mima com vários elogios chegando a afirmar que aqui se sentiu “agraciado com as mais fabulosas paisagens de todo o litoral.”

No início da reportagem Luís Ribeiro deixa transparecer um certo entusiasmo que se esvanece com a crueldade das desilusões sentidas ao longo do percurso, e certamente partilhamos com ele todo esse rol de sentimentos, pois a ideia de uma região comummente conhecida pela sua pobreza e pelo seu atraso tem sido associada à eterna fantasia de um Alentejo inexplorado, com recursos naturais por descobrir e com paisagens idílicas, paraísos intocados e oásis recônditos. É uma ideia errada! O Alentejo já está a ser conspurcado pela fúria do betão e a reportagem da revista "Visão" demonstra isso mesmo! A procura de uma costa intacta, perdida, esquecida e quase secreta revelou a soberba dos homens, a implacabilidade da economia e a ineficácia das políticas ambientalistas.

A revista “Sábado” apresenta na capa uma convidativa fotografia do Monte da Xica que nos remete para uma reportagem intitulada de “Os últimos refúgios do Alentejo” e em letras mais discretas o apetite do leitor é aguçado por um pequeno texto onde é prometido serem revelados lugares exclusivos e tranquilos – “Dez pequenos hotéis, no interior e no litoral, onde pode passar uns dias tranquilos neste verão. Descubra ainda quais são os melhores passeios, praias e restaurantes.” Desfolhando a revista deparamos na página 3 com o Sumário onde é reforçada a ideia de que serão revelados alguns segredos bastantes exclusivos com o seguinte texto – “Uns acabam de abrir, outros são velhos segredos bem guardados: do interior ao litoral, dez pequenos hotéis no Alentejo onde é possível escapar à confusão.”

Rumamos à anunciada página 40 e lemos em letras garrafais - “Férias longe da confusão” no canto superior surge em maiúsculas de corpo mais
modesto – “ Destinos. Os últimos refúgios do Alentejo” e por baixo, sob o título (perdoem-nos a incessável repetição em jeito de mega pleonasmo) é relembrado ao leitor que irá conhecer um Alentejo onde será mimado com “Jantares servidos em quartos com velas, pequenos-almoços deixados à porta para tomar quando quiser, fondue de chocolate com champanhe na cama” e novamente “Há tudo isto em hotéis perdidos no Alentejo. A Sábado mostra-lhe alguns dos melhores.”


Pois é… tudo pareceria normal, não fosse a inverosimilhança das afirmações… "Os últimos refúgios do Alentejo"? Onde? A Zambujeira do Mar, Vila Nova de Milfontes, Porto Covo, Santiago do Cacém… É certo que os lugares onde se situam as unidades de hospedagem e os seus arredores são tranquilos, mas quem conhece este Alentejo sabe que as praias são imensamente confusas nesta época. O surpreendente é que o Alentejo é na sua essência um imenso refúgio para quem busca isolamento, onde se podem excluir as praias e as áreas urbanizadas (vilas e cidades) e quem afirma que aqueles lugares/localidades são os últimos refúgios do Alentejo é porque não conhece o Alentejo ou porque não sabe o que é um refúgio!

Quanto à questão dos hotéis, esta parece-nos mais grave! Saberá esta gente o que são hotéis? Ou será que a falta de hotéis na região levou os repórteres a apelidarem de hotel qualquer estabelecimento que alugue quartos? O mais curioso é que sendo esta reportagem destinada a aguçar o apetite por sítios recônditos e pouco visitados, seria natural que o público gostasse de saber que nesta região existem pouquíssimos hotéis e a excelência na hospedagem é feita em unidades de Turismo em Espaço Rural e seus sucedâneos.


O paradoxo surge quando comparamos as reportagens das duas revistas, o jornalista da revista "Visão" lamenta a falta de hóteis no litoral Alentejano e a jornalista da revista "Sábado" descobriu dez hóteis e cinco deles aqui na nossa costa!

Ora… a legislação portuguesa é explícita e classifica os estabelecimentos hoteleiros em hotéis; hotéis-apartamentos; pensões; estalagens; móteis e pousadas remetendo o Turismo em Espaço Rural para outro regulamento. O Regime Jurídico do Funcionamento e Instalação dos Empreendimentos Turísticos refere que “os hotéis são classificados entre 5 a 1 estrela constituindo-se em pelo menos, 10 unidades de alojamento…”

Duvidamos assim que alguns dos estabelecimentos descritos na revista "Sábado" possam receber a designação de hotel, pelo simples facto dos requisitos para a instalação de unidades hoteleiras requererem níveis de qualificação que estes estabelecimentos não possuem – é visível e é notório! Por outro lado a legislação refere que um Hotel deve ter no mínimo 10 quartos (no caso do Monte da Xica por exemplo é referido que apenas possui três quartos).


A legislação menciona também que “em nome do princípio da veracidade, o hotel deve usar essa indicação no nome que adopte.”, impondo deste modo, que o nome do empreendimento contenha a palavra hotel e pela leitura da reportagem não encontrámos qualquer referência do género - Hotel Monte da Xica, Hotel Monte Estacada ou Hotel do Chora Cascas, concluímos assim que nestes estabelecimentos não existe qualquer terminologia na sua designação que as associe a este tipo de classificação - consequentemente não são hóteis!

As sugestões propostas pela revista são acompanhadas de uma explicação relativamente detalhada dos caminhos que levam os leitores até estes “hotéis” maravilhosos e esse esclarecimento revela-nos que a revista "Sábado" não é escrita para portugueses do sul, pois os algarvios e alentejanos não têm direito a qualquer indicação (comprem Gps!).


A reportagem realça também a magia desses hotéis mencionando até que o Monte da Xica já foi considerado um dos locais mais românticos de Portugal! Pois bem, para os leitores do blog que quiserem fazer uma escapadela romântica, aqui sugerimos alguns lugares realmente românticos, mágicos e imbuídos de espírito intimista (porque nos parece que essa gente não sabe bem o que é o romantismo). No concelho de Odemira propomos a Pousada de Santa Clara-a-Velha, e nos arredores o Spa Resort das Caldas de Monchique. Em Sintra aconselhamos o Hotel Tivoli Palácio de Seteais e em Coimbra o Hotel da Quinta das Lágrimas (profundamente ligado ao amor de Pedro e Inês). Mais a Norte sugerimos as termas da Cúria (por exemplo o Grande Hotel da Cúria), ou o Luso e Buçaco (por exemplo o Palace Hotel do Buçaco). E para que a escapadela seja memorável façam-se acompanhar da melhor companhia que encontrarem!

10.8.07

Para que lado fica o Festival do Sudoeste?




Nos dias do festival a vila é invadida por multidões perdidas e a precisar de um bom guia. Todos procuram o mar, a praia, a Zambujeira e até o festival – a informação divulgada pelos organizadores do evento e pelos media é incorrecta, e muitos daqueles que compram bilhete, chegam ao Litoral Alentejano julgando que o recinto do festival se situa a dois passos da praia.

O Festival do Sudoeste é uma marca ou um produto e como produto tem de ser bem vendido! Associar esta marca à Zambujeira do Mar foi uma estratégia resultante da identificação do target que consome este tipo de produto. O festival vive em função da Zambujeira e não teria a afluência e o mediatismo que tem se a sua localização surgisse relacionada com São Teotónio. Trata-se assim de uma relação onde se evidencia o Parasitismo – o festival alimenta-se à custa da Zambujeira – a sua hospedeira virtual. O parasita beneficia da hospedeira e apesar de não lhe causar a morte, debilita-a e enfraquece-a. Como este tipo de acontecimento não se compadece com o turismo tradicional e afugenta-o, o veraneio na época estival fica evidentemente comprometido.

Paradoxalmente, a freguesia de São Teotónio – a real hospedeira do parasita, não é mencionada nos outdoors, no merchandising, na publicidade ou na comunicação de produto, e nesse aspecto podemos observar um outro tipo de relação inter-específica: o Comensalismo. O comensal – São Teotónio beneficia com a relação, embora esta não lhe seja essencial para sobreviver e o festival (o hostil parasita da Zambujeira) não é afectado, poderia ser realizado aqui ou em qualquer outro lado, desde que a sua localização fosse sempre associada à Zambujeira do Mar. Como efectivo comensal desta relação, São Teotónio e a sua Junta de Freguesia beneficiam do bónus trazido pela realização do festival na sua circunscrição territorial. O comércio e os serviços beneficiam também das hordas errantes, que aqui se deslocam à procura da Zambujeira e dos excedentes – aqueles que não encontram hospedagem noutro lugar mais perto do mar.

A informação errónea facultada pelos mass media e organizadores do festival, tem dividido as opiniões em todo o concelho, muito particularmente nas freguesias visadas – São Teotónio e Zambujeira do Mar. Essa dicotomia de opiniões reflectiu-se no resultado do questionário que colocámos no blog. O questionário solicitava o parecer dos visitantes no que respeita à localização do festival do Sudoeste e as opiniões dividiram-se literalmente! Não existe consenso, mas não existirão também Gps´s ou mapas para conduzirem as multidões até ao festival, já que a informação veiculada indica uma localização errada, existirá certamente boa vontade e muita paciência para indicar verbal e gestualmente o caminho para a Herdade da Casa Branca aos milhares de visitantes que por aqui andam perdidos nesta altura.


2.8.07

O turismo que temos será aquele que queremos?



Agora que a romaria começou, todos os caminhos vão dar a São Teotónio. Desde o ano de 1997 os primeiros dias de Agosto são marcados pela realização de um dos maiores festivais do país. Inicialmente, todos concordavam que o festival traria turistas, veraneantes, visitantes e poria a região no mapa. Nessa época já a Zambujeira do Mar e os campos e praias de São Teotónio eram regularmente referenciados pela comunicação social como lugares aprazíveis, de belezas naturais bem preservadas e clima ameno, com uma cultura popular rica e uma gastronomia ímpar, que conjuga as tradições alentejanas com as maresias do atlântico.

Logo no início dos anos 90, essa divulgação nos media trouxe um novo tipo de turistas, gente que fugia dos lugares habitualmente referenciados como trendies na estação quente – gente cor-de-rosa, figuras públicas, gente que buscava isolamento, gente cosmopolita que procurava guetos reservados, exclusivos e alternativos, gente urbana que desejava individualizar-se e exaltar o ego nas noites do clube da praia, do fresco e outros bares; e na pacatez e simplicidade das nossas ruas com exaltações feéricas de théâtre et mise-en-scène, recorrendo a cuidadas produções estilísticas do guarda-roupa, gestos e atitudes esfuziantes.

A chegada destes novos turistas não passou despercebida e em pouco tempo a comunicação social começou a mencionar a Zambujeira do Mar como uma das praias mais IN do verão lusitano. A mediatização abastardou o ambiente que se vivia neste recôndito refúgio e na época seguinte os cosmopolitas e urbanos não voltaram, sendo a região ocupada por um novo tipo de turistas – os suburbanos.

Neste período a praia começou definitivamente a mudar… Na época estival a Zambujeira recebia veraneantes fidelíssimos, gentes do concelho ou provenientes de outras zonas, particularmente do baixo e do alto Alentejo e da região de Lisboa. Eram grupos familiares, pessoas que se conheciam desde há gerações e que ali se reuniam anualmente “a banhos”. Com a chegada dos indivíduos suburbanos inicia-se a descaracterização da pacatez e serenidade, dos hábitos e tradições do verão na Zambujeira. Nos primeiros anos a maioria dos habitués fez finca-pé e manteve-se incólume julgando que a invasão seria passageira, todavia o lançamento do Festival do Sudoeste foi o pronuncio do fim da Zambujeira perfeitamente esquecida e maravilhosamente perdida num dos últimos paraísos do continente lusitano.

A implementação do festival não dividiu opiniões, era quase consensual que “seria bom para a terra” traria visitantes, turistas, viajantes, veraneantes, consumidores, oportunidades de negócio, publicidade para a região, desenvolvimento e progresso!
Quando os veraneantes habituais começaram a abandonar a praia, embora desgostosas a maioria das pessoas permaneceu firme julgando que as novas multidões trazidas pelo festival compensariam (e de que maneira!) a ausência e desistência dos antigos. Havia até quem julgasse que a seguir à primeira semana de Agosto, se iniciaria a pacatez que todos ansiavam e os habitués retornariam para desfrutar o verão na sua plenitude.

Com o passar do tempo a lucidez apoderou-se das opiniões, e as pessoas começaram a ver com clareza todas as implicações do festival. Houve contudo uma época, em que se falou que a empresa organizadora do sudoeste não entrava em acordo com o proprietário do terreno onde se realiza o festival – a Herdade da Casa Branca e estava aberta a hipótese do festival ser realizado noutra zona. Nessa altura as opiniões vacilaram! "Perder o festival para outra zona??? Não pode ser!" Certo é, que o festival se manteve por cá, para alegria e contentamento de alguns, mas hoje fala-se novamente no seu fim, agora de uma forma definitiva.

O Festival do Sudoeste tem sempre sido o palco de controvérsias e acesas discussões. A freguesia, as praias, os campos, as ruas, as estradas, o comércio, as hospedarias, o parque de campismo, os restaurantes e cafés são invadidos por multidões ávidas de consumo – consumo barato mas intensivo. Acomodam-se como podem, escolhem os alojamentos mais económicos ou se possível gratuitos (campismo selvagem, dormidas na praia, no campo ou no carro). A limpeza corporal é feita nos banhos públicos, no canal, nas ribeiras, nas fontes e na praia. A alimentação é parca (tem de sobrar dinheiro para a bebida y otras cositas más), comem o que podem e não como devem, e escolhem a ementa em função do preço! Quem são??? Caracterizá-los seria um exercício digno de um sociólogo, antropólogo ou psicólogo muito paciente, desocupado e sem outras tarefas mais interessantes com que se ocupar. São uma fauna miscigenada, gente estranha, bizarra e tétrica, aspecto terrífico, aromatizada por intensos odores corporais, trajes e adereços reveladores de pertenças ou simpatias por movimentos e tendências lúgubres tipo góticos, trances, rastas & afins. Grupos fabricados pela suburbanidade e pela iliteracia reinante no país, pessoas que procuram sair da indigência social e cultural buscando referências em imagens, códigos, dialécticas e manifestos miseráveis e vazios de conteúdo, que incitam a estilos de vida marginais e pouco consentâneos com os modelos organizativos da sociedade produtiva, geradora de desenvolvimento e de riqueza.

Começam a chegar nos últimos dias de Julho e ficam até onde é possível esticar o dinheiro, certo é que alguns conseguem ficar o resto do verão. As praias e os campos são totalmente assolados por estas pessoas, porém com o passar dos dias começam a esvaziar-se, mas o resultado deste impacte mantém-se! O lixo, os despojos, as sobras, as consequências e os danos ficam e aqueles que prezam esta terra lamentam! O festival fez disparar os preços dos alojamentos e dos bens de consumo, aliciou para o lucro fácil e incrementou a especulação imobiliária na sua pior vertente.

Não queremos ser um segundo Algarve, mas isto é pior do que as piores zonas do Algarve (a praia de Quarteira tem ou não tem melhores inquilinos nesta época?). Reclamamos um turismo de qualidade, direccionado para segmentos de mercado heterogéneos, mas com elevados níveis de exigência, onde a quantidade e a ocupação massiva seja preterida em função da qualidade, unicidade e singularidade de empreendimentos planeados de modo equilibrado e sustentado, e que se harmonizem com as características naturais, culturais e sociais da região.

Fala-se de resorts, golfes e empreendimentos destinados a clientelas selectas e endinheiradas, mas será essa a solução para a qualificação da oferta turística na região? Tantas autarquias que já licenciaram esse tipo de projectos e hoje opõem-se veementemente a esses investimentos megalómanos que estagnam a economia local pela sua natureza de autênticos colunatos onde tudo existe para satisfazer o turista, sem que se verifique uma relação de reciprocidade entre esses guetos de luxo e o território onde se implantam. Muitos desses golfes e resorts, são também formas disfarçadas de fazer loteamentos e condomínios fechados. Desta forma, esses pseudo-loteamentos são aprovados em muitas zonas do país sob a capa de empreendimentos turísticos contornando algumas brechas da legislação. Seguramente não desejamos a ocupação massiva da nossa região, todavia esse turismo de luxo que tanto se fala… será a melhor solução? E se for essa a derradeira solução será que os mamarrachos que hoje vimos construir; o mau planeamento urbano; as multidões do festival de sudoeste; as carências em infra-estruturas básicas e cuidados de saúde e a fraca qualidade das poucas vias de comunicação, se compatibilizam com esses édenes fabricados pelo dinheiro? Ou será que vai acontecer o mesmo que no Algarve? Resorts, hotéis e aldeamentos turísticos de luxo onde o turista tem de vendar os olhos sempre que sai desses paraísos idílicos, porque tudo o resto é muito mau – mau urbanismo, mau ordenamento, mau paisagismo e má arquitectura.

O que acontece aqui, é que esses grandes empreendimentos turísticos ainda estão na fase de projecto e aquilo que é construído actualmente pelos pequenos promotores é nefasto e compromete seriamente o sucesso dos investimentos vindouros. A descaracterização urbana e arquitectónica começa a acentuar-se e na Zambujeira do Mar chega a ser calamitosa!

Há quem diga que o resultado das imprudências cometidas ao longo dos anos no ordenamento do território deste país tem a ver não só com a iliteracia do povo, com a gula e avidez dos promotores e construtores mas também com a ignorância, pelintrice e pedantismo dos indivíduos que se colocam em certos cargos políticos, muito particularmente nas autarquias. São pessoas com pouca visão, pouco letradas, sem cultura, sem gosto, quando detentoras de algum diploma universitário pertencem na maioria das vezes à primeira geração que estudou na família, e não se fazem rogados… exigem tratamento diferenciado! Ainda que muitos tenham obtido classificações medíocres ou sem brilhantismo, concluindo bacharelatos e licenciaturas de qualidade duvidosa, frequentemente em universidades privadas ou públicas de 5.ª categoria e não tenham sequer feito mestrado ou doutoramento, são todos doutores e quando o não são pertencem à Ordem dos Arquitectos ou dos Engenheiros ou à ANET (só o nome assusta! Associação Nacional de Engenheiros Técnicos). Agarram-se ao cargo com "unhas e dentes" e sempre que têm oportunidade enfiam a família e os amigos em empregos no sector público através de concursos expressamente elaborados para esse efeito!

Com o tempo o cargo ofusca-os e excedem-se, (“nunca sirvas quem serviu, nunca peças a quem pediu”) gente proveniente do povo começa a ser idolatrada e bajulada pelo povo e muito particularmente por investidores que não se importam de pagar uns cobres a mais para licenciar aquilo que mais dinheiro render.
No princípio há alguns resistentes que procuram respeitar integralmente os regulamentos e as premissas que inicialmente propuseram no programa do mandato, com o nobre propósito de melhorar a qualidade urbanística dos concelhos. Todavia, "quanto mais se tem, mais se quer", e se antes auferiam um salário de miséria, com conquista do cargo público ou político dão pulos de contentamento nos primeiros meses de vencimento, mas com o passar do tempo aquele dinheiro ao fim do mês torna-se insuficiente e as propostas dos construtores e investidores tornam-se tentadoras. No final todos vergam! Cada um ganha o que pode, de forma discreta e imaginativa. Organizam jantares em recantos muito esconsos de restaurantes dos arredores, planeiam contornar os PDM’s e demais regulamentos (fazendo tudo dentro da lei! como é vulgar dizerem).

Inicialmente, nos primeiros contactos disfarçam a ansiedade pelas comissões, resistem, dificultam, opõem-se às ideias do promotor, pedem para reduzir aqui e ali no projecto. O investidor compra o terreno a pensar que pode construir 100, mas o presidente, o vereador ou os arquitectos e engenheiros dizem que só dá 50… Assim, conseguem aumentar o valor do prémio, dificultam e dificultam, mas depois de uns jantares, de uns telefonemas fora de horas, de uns cheques, umas viagens, uns carros, uns terrenos, umas casas ou apartamentos, aquilo que dava para construir 100 já permite 120, estica-se a área, o número de pisos e o número de fogos, o promotor faz também umas cedências e oferece-as ao concelho para ficar bem na fotografia e tranquilizar a consciência dos corruptos e tudo se resolve à custa daquilo que todos nós sabemos! Do balanço, fica tudo o que nós conhecemos… os senhores que trabalham nas autarquias ganham, os donos dos bancos ganham com os financiamentos, os promotores dos investimentos ganham e Portugal continua a perder!

As pessoas erradas ocupam os lugares chave neste país, desconhecendo a dualidade intrínseca de dois conceitos muitas vezes opostos – crescimento e desenvolvimento, para haver desenvolvimento tem sempre de haver crescimento sustentado e estruturado. Aquilo que ambicionamos e merecemos é uma região salvaguardada e protegida do crescimento rápido e destrutivo – que enriquece rapidamente alguns e compromete o desenvolvimento futuro de todos e de Portugal. Desejamos investimentos que não tragam apenas riqueza para os promotores, mas também para a região, que fomentem o desenvolvimento equilibrado, que potenciem a qualidade de vida, que se compatibilizem com o património edificado, natural e cultural, que se projectem na modernidade respeitando a morfologia urbana das vilas, os modelos vernaculares de ocupação do território e os valores padrão da arquitectura tradicional. Ambicionamos o retorno dos antigos veraneantes e a chegada de novos turistas, exigentes e com gostos sofisticados que incitem o desenvolvimento e qualificação do sector terciário e de toda a economia da região. "Cada um tem aquilo que merece" e... o turismo que temos poderá ser aquele que merecemos, mas não será seguramente aquele que queremos!