Passou um ano sobre os trágicos acidentes que colocaram Odemira no topo das notícias nacionais.
Em Janeiro de 2007 o concelho de Odemira corporizava o início de uma crise que iria se espalhar por todo o território português. As reformas do Sistema Nacional de Saúde têm sido contestadas pelas populações e em Janeiro de 2008 o Sr. Primeiro Ministro José Sócrates efectua uma operação de cariz mediático no sentido de contrariar o clima de descontentamento, o Sr. Ministro da Saúde Correia de Campos é substituído pela Sr.ª Dr.ª Ana Jorge, que continuará evidentemente o programa do seu antecessor.
Em Odemira dizem os políticos que os meios disponíveis melhoraram em 2007, todavia os erros, os atrasos, a ineficácia e até a incompetência mantêm-se. Quanto à permanente sensação de insegurança nada há a fazer, em caso de necessidade o auxílio tarda em vir mas também tarda em levar os doentes por estradas sinuosas e mal pavimentadas aos longínquos hospitais de Beja ou de Santiago de Cacém.
A propósito dos acidentes de 2007 deixamos um soberbo texto extraído do blogue A Carraça Rabejadora:
“Nem sei que título devo dar”
“Há uns dias atrás um senhor teve a má sorte de ser atropelado no concelho de Odemira... Teve azar porque Sines (onde fica o Hospital do Alentejo Litoral) fica a longínquos cinquenta quilómetros. Teve azar porque a capital do distrito a que pertence, Beja, fica a extraordinariamente afastados cento e dez quilómetros.
Teve azar porque Lisboa, a capital da nação, fica a galácticos duzentos anos-luz, desculpem... quilómetros.Assim, considerando estas distâncias dignas de etapa do Lisboa-Dakar, o senhor estava praticamente condenado à morte... Senão comparemos: na etapa de terça-feira do dito rally Carlos Sousa, com problemas mecânicos incluídos, demorou cinco horas a fazer quatrocentos quilómetros pelas magníficas estradas da Mauritânia! Como podem as pessoas admirar-se que um acidentado com múltiplos focos de contusão cerebral demore meras sete horas a chegar a um hospital em Lisboa?!O que dizem as entidades responsáveis(?!):
O Ministério da Saúde concluiu, num comunicado divulgado esta quarta-feira, que foi correcto o socorro prestado a um homem vítima de acidente na zona de Odemira, que viria a falecer, a semana passada, afastando a hipótese de realização de um inquérito.
Inquérito para quê? Já toda a gente percebeu! O homem teve um azar do caraças!
Segundo o Ministério da Saúde, durante a assistência ao homem que foi vítima do acidente este fim-de-semana, «foram proporcionadas as medidas de estabilização apropriadas, sem as quais o sinistrado nem sequer teria condições para suportar a viagem».
O senhor que foi atropelado ainda devia estar grato por lhe terem garantido uma viagem até Lisboa! O ministério assume que «a gravidade do acidente e a distância a que ele ocorreu de um centro hospitalar com capacidade de intervenção neurocirúrgica, condicionaram, sem dúvida, o tempo que mediou entre a ocorrência e a entrada no hospital de destino».«Não existe, todavia, evidência de que esse lapso de tempo, bem como as manobras entretanto executadas pudessem ter influenciado o desfecho fatal, o qual se deveu essencialmente à gravidade das lesões iniciais», refere o documento.
A gravidade do acidente e a distância a que ocorreu condicionaram sem dúvida... O desfecho fatal que se deveu essencialmente à gravidade das lesões iniciais... Isto é: a culpa é do senhor! Para a próxima vá viver para perto de um centro hospitalar ou então procure ser atropelado com menos violência... Ahh! É verdade! Não vai haver próxima para este senhor!
O presidente da câmara sublinha que, na reunião, todas as partes admitiram que é demasiado grande a distância até ao hospital mais próximo com serviço de neurocirurgia, que se encontra em Beja. Mas acrescenta que seria impossível manter aumentar o número de médicos ou ter um helicópetro permanentemente disponível.
Portanto... não há nada a fazer! Resta esperar que ninguém, no concelho de Odemira (onde, já agora, ficam zonas turísticas bastante frequentadas como Vila Nova de Mil Fontes ou locais de autêntica romaria como a Zambujeira do Mar - Festival do Sudoeste), seja atropelado com esta gravidade! Eu proponho que todos os habitantes de Odemira migrem para outros concelhos.Mas nem tudo são más notícias!
Assim como aconteceu no caso dos pescadores que morreram a cinquenta metros da costa (eu aqui paro sempre para olhar para os metros...) também agora o ministério responsável vem apresentar novas medidas:
O ministério anunciou ainda a entrada em funcionamento de duas novas Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), uma em Évora, e outra em Portalegre, além de um «plano da via verde coronária» e formação especializada às tripulações de ambulâncias do INEM e dos bombeiros.O plano consiste num sistema de organização entre hospitais, ambulâncias e INEM, para a transferência de doentes coronários.
O Ministério da Saúde anunciou a entrada em funcionamento da segunda viatura médica de emergência e reanimação (VMER) no Alentejo, sedeada no Hospital de Évora (a escassos 150 quilómetros de Odemira), até ao final de Fevereiro (já sabem habitantes de Odemira, até fevereiro cuidado na estrada).
Quase que me apetece dizer, enquanto professor (e sublinho que disse quase), que espero que morra um professor vítima do desgaste psicológico ou da violência crescente nas escolas para que depois aquela senhora venha anunciar medidas...Antes de terminar tenho de fazer uma última referência. O senhor Vítor Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência disse:
Fico assustado porque um inquérito serve para apurar responsabilidades, não para punir alguém, mas para melhorar um serviço que obviamente está a funcionar mal, já que um politraumatizado demora seis horas a chegar ao hospital... Fico envergonhado com a decisão do senhor ministro de não promover um inquérito.
Vem este senhor, que está completamente fora do assunto dizer estas barbaridades! Sinceramente! Até já parece o representante do sindicato dos pescadores a falar a propósito das medidas que entendia urgentes!Ainda bem que neste país ninguém dá ouvidos a quem percebe do assunto!”
Imagem Extraída do Banco de Imagens do Google.
Texto extraído de http://a-carraca-rabejadora.blogspot.com/2007/01/nem-sei-que-ttulo-devo-dar-parte-ii_17.html