22.5.08

A Bandeira Azul

A poucos dias da abertura oficial da época balnear 2008 a comunicação social revelou as praias e marinas galardoadas com a bandeira azul. Entre as eleitas figuram três praias do concelho de Odemira: Zambujeira do Mar; Carvalhal e as Furnas em Milfontes.

Ao longo dos últimos anos os responsáveis autárquicos não submetiam as praias do concelho a esta seriação, por alegadamente discordarem dos critérios de apuramento, já que a atribuição deste galardão impõe que as praias e marinas cumpram um conjunto de requisitos que contemplam a qualidade ambiental, a segurança e bem-estar, a existência de infra-estruturas de apoio, informação aos utentes e a promoção da sensibilização ambiental.

Foi mesmo uma mera teimosia justificada por não existir rigor nos critérios de análise das águas que se baseiam no ano anterior à atribuição do prémio ou as praias não cumpriam os requisitos exigidos?

Sabemos que a ostentação das bandeiras azuis é uma mais-valia para o turismo da região, será então que a autarquia não afastou investidores e turistas, desprestigiando as praias do concelho com este boicote à Bandeira Azul?

A opinião pública é implacável e devastadora e quando as praias deixam de ostentar a bandeira azul, levantam-se suspeitas que normalmente prejudicam o turismo, o comércio e contaminam os “ares” e a fama da região.

12.5.08

A agricultura que temos será a que queremos?

A modulação dos terrenos, a ligação aos ciclos da natureza e às características do lugar, as texturas, as cores e os aromas em constante mutação, a celebração da vida e da sua renovação em cada sementeira e em cada colheita, a compartimentação dos campos e divisão das parcelas, o uso da água e a genialidade dos sistemas de rega, a tranquilidade interrompida pela azáfama dos trabalhadores e das máquinas, a cultura popular cunhada por tradições ancestrais geradas num meio onde o homem e a terra se fundem. Imagens bucólicas daquela que é seguramente uma das actividades mais destruidoras do planeta.

Ao longo das últimas décadas as actividades do sector primário foram alvo de grandes alterações, no sentido de maximizar a produção e minimizar os riscos, nomeadamente a vulnerabilidade perante os fenómenos da natureza. As lavouras tradicionais dependentes das características do meio em que eram produzidas dão hoje lugar a outro tipo de culturas muito mais impositivas. A agricultura é uma actividade económica e alguns dos agentes intervenientes neste sector em Portugal não souberam acompanhar as evoluções.

Hoje os campos agrícolas são sacrificados com vastas extensões de monoculturas intensivas que são alimentadas com aditivos e nutrientes específicos para cada plantação. Os químicos – fertilizantes e pesticidas são introduzidos no solo sem qualquer tipo de controlo. Hoje as culturas não necessitam de se adaptar ao lugar, porque o lugar pode adaptar-se às culturas. Cria-se a climatização certa, equilibra-se o solo ou outro meio com os nutrientes necessários, usam-se sementes modificadas e obtém-se a cultura pretendida, com a cor, a forma e o estalão mais vendáveis.

Este tipo de agricultura é evidentemente invasiva, contamina os lençóis freáticos, altera a natureza dos solos, esgotando-os, prejudicando espécies endémicas animais e vegetais. Estes métodos altamente lucrativos apresentam-se hoje como os mais fiáveis para os agricultores portugueses que quiserem ser competitivos num mercado em que o escoamento de produtos perecíveis é usualmente comprometido pelas dificuldades geradas pela cotização e distribuição.

Em Odemira, onde o sector primário ainda ocupa um lugar determinante na economia do concelho, largos hectares de terreno são ocupados por culturas de grande rendibilidade, nomeadamente os frutos vermelhos para serem vendidos em mercados internacionais. O Sr. Presidente da Câmara Municipal disse recentemente à comunicação social que não permitiria que Odemira se assemelhasse ao sul de Espanha (por ex. Almería e Adra em particular, onde as estufas cobrem vastidões de terra, as imagens do "Google Earth" são bem explícitas).

Porém, desde os tempos do famoso Thierry Roussel os campos e até as dunas em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina têm vindo a ser ocupados pela agricultura plástica. Inicialmente, este investimento essencialmente estrangeiro criou emprego numa zona onde a escassez de indústria, dificulta a entrada no mercado de trabalho de uma população pouco escolarizada.

Hoje os ingleses, holandeses, americanos, espanhóis continuam a investir no concelho, porém empregam mão-de-obra ainda mais “barata” e nos campos de Odemira trabalham chineses, tailandeses, búlgaros, romenos… Em Odemira procura-se alternativas ao trabalho do campo, os jovens actualmente com mais formação escolar e qualificação tecnico-profissional continuam a partir para outras regiões, deixando a região vazia dos seus frutos, envelhecida nas suas raízes e com uma população não residente de trabalhadores vindos de todas as partes do globo.

Os solos vão-se esgotando, o Parque Natural vai empobrecendo e os odemirenses continuam sem trabalho e sem usufruir plenamente desta economia parasita que se instalou no concelho.

Texto cedido pela Marianne para publicação neste blogue.