Bora lá saltar a fogueira!
A 13.ª edição do Festival dos Mastros poderá ter ficado para a história como a “azarada”! Terá sido coincidência ou então o São Pedro e o Santo António andam de “candeias às avessas” – ainda os papéis estavam a ser colocados e já o céu ensopava o Verão que tardava em vir! A primeira grande festa da 13.ª edição dos mastros por coincidência nas celebrações do dia 13 de Junho, ficou comprometida, mas tudo se resolveu de improviso. Pelas ruas escorria água colorida com pigmentos dos papéis murchos e debotados que com o peso e a força do vento começaram a cair. As previsões meteorológicas eram pouco animadoras e os ânimos andavam em baixo mas… “quem espera sempre alcança” e a teimosia dos folgazões saiu vitoriosa, mal a chuva parou os arrebiques foram montados a preceito.
Pelo número de edições realizadas até hoje é possível adivinhar que esta festividade tem um passado curto na freguesia, contudo esta “moda” trazida sabe-se lá donde, parece que veio para ficar! É certo que montar os enfeites dá trabalho e que muitos dos que tiveram a paciência de contribuir nos primeiros festivais já foram para o lar ou quiçá para o outro mundo. Talvez por isso, esta festa tenha começado por ser anual e ao fim de alguns anos tenha passado a realizar-se bianualmente.
Quem passa por São Teotónio não fica indiferente à euforia dos ornatos e cores que adornam o espaço público. A profusão de enfeites garridos bem ao gosto popular, folclórico, naif, kitsch ou sabe-se lá qual… convida a “clicar” o botão da máquina fotogáfica ou do telemóvel para sacar umas fotos jeitosas. O povo gosta daquilo e… “ao povo dá-se pão e circo”! Deste modo o povo ganha umas resmas de papéis coloridos para durante vários meses se entreter a cortar, a colar e a montar penduricalhos. Finda a festa – fica o exemplo das decorações na envolvente da igreja que foram executadas a partir da reciclagem de papéis e embalagens por jovens da freguesia. Um exemplo que poderia estender-se a todas as decorações dos futuros festivais – a malta reciclava e o estado poupava uns cêntimos.
Para trás fica esquecido um passado de tradições ancestrais que se irão perder na memória de todos nós! O progresso tem destas coisas e a subversão da verdade pode ser uma delas. Os forasteiros mais desatentos julgarão que estes festivais serão uma tradição enraizada na nossa cultura. Desenganem-se! Isto veio com o asfalto! Alguém se lembra das ruas empedradas em São Teotónio? Não queremos fazer a apologia do passado, mas… as ruas eram bem mais genuínas! Os carros trouxeram o asfalto e o asfalto apagou as fogueiras dos Santos Populares. Alguém se lembra das fogueiras? Do cheiro do alecrim, do rosmaninho, das perpétuas e dos matos a arderem nas ruas? Dos putos a saltarem e a fazerem negaças entre si para ver quem tinha a maior fogueira? Dos mastros enfeitados com flores e ervas dos campos? Das idas à fonte a cantar? Das cantigas que só nós cantávamos, do jeito como dançávamos e dos versos que só nós dizíamos? Do misticismo dessas noites? Dos bruxedos e adivinhações que se faziam no fogo? Essa era a nossa tradição! A autêntica! A genuína!
O alcatrão invadiu a vila, os poucos passeios são em cimento ou em blocos de betão. Mas ainda restam umas pedras e alguns terreiros onde é possível acender umas fogueiras. Se pensarmos bem, a moda dos papéis coloridos tem muito pouco de ecológica… já a queima dos matos secos… é outra conversa!!! Por coincidência ou talvez não… a limpeza das florestas coincide com o início da estação seca e era exactamente nessa época que se queimavam os matos nas fogueiras dos Santos Populares!
É certo que o povo se rendeu e os enfeites garridos são engraçados, atraem gente de fora e ficam bem na fotografia, mas… será que não dava para fazer um “dois em um”??? Que tal pormos os miúdos e os graúdos a reciclar papéis, embalagens e monos para enfeitar a vila e a apanhar matos secos para as fogueiras? Enfeitavam-se as ruas e reabilitavam-se as velhas tradições? Esperamos que alguém segrede este nosso desejo a quem manda…
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