6.7.07

As Maravilhas de São Teotónio






Não sabemos bem porquê mas a palavra maravilha tem um certo toque de pindérica, por conseguinte julgamos que se adequa perfeitamente para qualificar os participantes de tão nobre concurso. Embora constem apenas sete maravilhas na lista, reconhecemos que na freguesia existem muitas outras elegíveis. Todavia, após diversas reuniões o júri deliberou submeter à votação do público: a torre do ferreira; a escola de condução; o repuxo do Quintalão; o PT da igreja; a calçada da avenida das escolas e os cromos são teotonienses. O júri fundamentou a sua escolha no carácter único, distintivo e emblemático dos concorrentes, considerando que a história particular de cada um se entrecruza com a gesta gloriosa da vila.

A Torre do Ferreira foi construída na segunda metade do século XX. A sua traça é atribuída ao mestre-de-obras Ferreira, especialista em tábuas, estofos e afins. A contemporaneidade deste colosso é marcante e os historiadores de arte e de arquitectura têm dificuldade em classificá-lo, há especialistas que afirmam ser autoconstrução, outros estudiosos associam-no às AUGI – Áreas Urbanas de Génese Ilegal, outros porém sugerem que a sua qualificação deve integrar-se no Movimento Nacional da Construção Precária. Alguns peritos descrevem este monumento como o introdutor do Estilo Megalominimal, onde a grandiosidade das formas desmedidas se associa a uma forte depuração decorativa, revelando a essência das matérias construtivas e a pureza dos materiais em tosco como os tijolos, os elementos estruturais e o ferro, abdicando de elementos supérfluos ou acessórios, como rebocos, cantarias, caixilhos ou vidros.

A construção da Escola de Condução iniciou-se nos finais do século passado. O estilo é extraordinariamente rebuscado, muito característico e representativo da Arquitectura Florescente Portuguesa. A sua edificação teve por base o esforço hercúleo desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, já que a elevada complexidade da sua traça, exigiu a cooperação dos projectistas, dos licenciadores camarários, dos mestres-de-obras e dos promotores do investimento.

O Repuxo do Quintalão é mais uma obra paradigmática da erudição artística nacional, com compleição assumidamente fálica, a sua delicada robustez escultural implicou um grande exercício de enquadramento na envolvente. A primeira intervenção revelou-se desadequada e o desenho urbano do Quintalão foi totalmente repensado para reenquadrar esta escultura. Deste modo, ao fim de vários anos e de alguns milhares de contos as primeiras obras realizadas foram demolidas no sentido de reordenar o largo em torno do seu eixo vibrador “o Falo Ejaculatório”. Esta obra tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos São Teotonienses que se socorrem dela com frequência, a ponto de as suas dimensões estarem a diminuir pois o tronco revela uma retracção dimensional esmagado pelo uso compulsivo da cabeça.
A primeira erecção desta escultura iniciou-se nos anos oitenta do século passado e foi uma das obras fundadoras do Estilo Nacional Vamos Fazer na Rotunda e no Espaço Público uma Obra Pindérica para Arrecadar Votos e Imortalizar o Nome numa Placa Inaugural.

O Posto de Transformação da Igreja foi erigido na década de noventa do século XX e representou o culminar de um longo processo de requalificação e restauro do espaço religioso. A sua edificação deve-se ao esforço da população que em acesa reunião na Casa do Povo, revoltou-se e exigiu que o projecto que previa a inserção de um PT no Quintalão fosse repensado. A populaça gritava que o PT era perigoso pois iria ser colocado na proximidade das habitações e a sua fealdade desfigurava o espaço público. No sentido de satisfazer os desejos do povo e auferir uns trocos o padre manecas idealizou uma obra sublime – a anexação do PT à Igreja. Embora perto do casario, o engenhoso padre contactou a NASA e encomendou uma paredes “espaciais” que impedem a transmissão de radiação. Os americanos levaram todo o dinheiro que o padre havia sacado na negociata, mas o desejo de agradar a população levou-o a fazer “o PT mai lindo das redondezas!”.
Esta obra-prima insere-se no Estilo Português do Vamos Decalcar a Obra Antiga e o seu mimetismo estende-se aos mais ínfimos pormenores, havendo até o cuidado de ocultar a inevitável frase do “Perigo de Morte”.

A Pseudocalçada da Avenida das Escolas é mais uma obra pioneira do Estilo Nacional Vamos Fazer na Rotunda e no Espaço Público uma Obra Pindérica para Arrecadar Votos e Imortalizar o Nome numa Placa Inaugural. Iniciada no período do pós 25 de Abril, esta obra teve a liberdade de desafiar as convenções artísticas da época, sendo uma verdadeira lição para o ideário de futuros intervenientes na vida política e social. Esta intervenção trouxe consigo a ideia revolucionária de que o trabalho de calcetar era humilhante e os homens querem-se a trabalhar em pé e não curvados e acocorados partindo pedra e dilacerando as mãos. Abriu-se assim um magnânimo precedente e nunca mais foram executadas calçadas nos arruamentos da vila. Na senda dessa exaltação revolucionária os arruamentos são agora asfaltados e evitam-se os passeios porque se deve fazer a apologia dos popós. Todavia, sempre que é necessário executar um passeio, ele é feito em cimento ou em blocos de betão.

Este passeio é único e os segredos da sua execução nunca foram revelados. A sua textura confere-lhe uma riqueza muito particular e todos os remendos efectuados posteriormente não conseguiram recriar a autenticidade dos detalhes decorativos. A ornamentação foi elaborada por "mestres texturadores" que curiosamente disponibilizaram-se a acocorar e deram início a uma dificultosa e longa empreitada. Tão longa, mas tão longa que as estimativas revelam que o tempo que demorou a sua execução daria para um homem calcetar duas vezes a baixa pombalina.

Os obreiros deste passeio abdicaram de moldes de modo a obter uma textura mais autêntica – resultante do repetido e incessante gesto de martelar o martelinho dos bifes no cimento. Os ilustres projectistas de tão sublime obra, colocaram "mestres paisagistas" ao lado dos texturadores. O resultado foi magnificente, todo o passeio foi enriquecido com canteiros que dificultam a passagem dos transeuntes de modo a adequar-se à tendência que existe na vila para se realizar faixas de circulação para os popós esquecendo os peões.

Os Cromos Lusitanos Teotonienses são o símbolo da etnologia Teotoniense. Para um melhor entendimento dos fundamentos que levaram o júri a colocá-los na lista de elegíveis recomendamos a leitura do conto inaugural intitulado “Vamos lá falar a sério!”.


Os resultados da votação serão revelados… AMANHÃ! O truque é votar!

Eleja a sua MARAVILHA! VOTE!















































































































1 comentário:

Fernando Évora disse...

Não sei como votar. Nem sei se o deva fazer. A torre do Ferreira é, de facto, o ex libris de São Teotónio. Orgulho-me de estar a votar e a vê-la pela janela desta minha casinha. É um privilégio reservado a poucos...